Califórnia 1982

Anos 80, Reagan era o presidente da maior potência económica do mundo, mas devastada pela crise do petróleo, os holandeses ainda só tinham meia dúzia de ciclovias, os portugueses começavam a ter dinheiro para comprar pão, drogas ou eventualmente o vinil das Doce e eu era um puto charila 
(funny kid in English)
Diogo em meados de 80

Foram também os anos em que David Hon, um americano que tinha acabado de se licenciar em física,  fundou a marca de bicicletas dobráveis mais reconhecida no mundo. 
Depois de uma bem sucedida primeira carreira no sector aeroespacial onde desenvolveu o primeiro laser tatico, Hon percebeu que com o custo de vida num nível altíssimo as pessoas precisavam de uma forma mais económica e sustentável de se deslocarem. Juntou cerca de 200 mil dólares e desenvolveu o primeiro protótipo de uma bicicleta dobrável que orgulhosamente baptizou com o seu nome.

Depois de fundar a marca e registar patentes, Hon procurou quem quisesse abraçar o projecto, mas ninguém quis saber. Por isso abriu por conta própria uma fábrica em Taiwan e fabricou logo no primeiro ano cerca de 6 mil bicicletas.

 
E foi uma das unidades dessa época que me chegou às mãos ^_^
Não vou esconder o meu entusiamo, sempre fui um grande fã da marca e do seu fundador que acabou por se tornar uma espécie de Steve Jobs das bicicletas, por a sua invenção ter tido um impacto significativo na direcção da indústria. E eu acabei por adquirir um Macintosh de duas rodas por 65€, com a grande diferença desta invenção ainda ter a mesma utilidade aquando o seu fabrico há mais de 40 anos e o Macintosh ser hoje um pisa papéis (sem ofensa Jobs!)

Esta Dahon III (conhecida agora por Dahon Classic) estava num estado satisfatório para a idade que tem. O quadro feito para durar eternamente não apresentava danos ou grande corrosão. Alguma ferrugem em algumas peças, aros, raios. 
 
 
Importa dizer que há algumas partes em Inox como os espigões de guiador, selim e o tubo inclinado que bloqueia o guiador e também ajuda a reduzir as tensões nas duas dobradiças. Foram até fabricadas algumas completamente em inox que eu espero um dia poder por as mãos.
Esta da foto foi alterada, é difícil encontrar boas fotos em que se veja bem o quadro

Depois de desmontar tudo, limpar, polir, lubrificar, trocar cabos punhos, selim, pneus, câmaras, fitas, fui andar nela pela primeira vez
Como podes ver pela foto é uma bicicleta para pessoas pouco altas (eu tenho 1m74) não pelo tamanho da roda obviamente, mas pela distância entre eixos que é um pouco menor que o da actual Dahon Curve. Por outro lado, o excessivo peso dela e o quadro diamante em aço tornam a condução muito confortável. E os pneus que coloquei nem são nada de especial, uns básicos da kenda que tinha para aqui. 
aros cromados (em aço pois claro, pesados que dói) mas belíssimos. O cubo tem um OLD de 80mm. Pode muito bem levar rodas modernas leves como as da foto em cima. Os travões mantive o traseiro e troquei o da frente por um idêntico. Este tipo de travões tem de ser usado em simultâneo para se conseguir "travar bem".

Esta Dahon Classic tem um cubo de 3 velocidades internas da Sturmey Archer, feito no UK. Também ajuda no peso, os actuais são de alumínio. Apenas precisou de alguma lubrificação interna para além da limpeza completa exterior (sem desmontar a roda). Apesar da idade não teve um uso excessivo. Aliás essa também é outra vantagem de uma dobrável, como o objectivo é sempre o da combinação com outros meios, acabamos por prolongar o normal desgaste das peças. E ainda mais nesta época em que provavelmente o uso não era assim tão intensivo como agora, o que resulta nestes pequenos achados que se restauram bem sem grande investimento em peças
As bonitas chapinhas do guiador e do guardalamas resistiram aos anos
Tive de ter muito cuidado com os plásticos que tendem a partir devido aos anos. Ainda bem que não apanhou muito Sol. Ainda assim tive de reforçar algumas partes mais sensíveis com fita preta e borrachas no contacto com as porcas dos travões.
O manípulo da Sturmey que ainda hoje é fabricado com o mesmo molde a par de outros de aspecto mais moderno
 
O aperto do espigão. Isto é um telescópico por isso tem dois iguais a este (mais o do guiador). Quase todas as peças nesta Classic são únicas e por isso têm de ser estimadas. Claro que posso trocar muita coisa por peças actuais, mas passo a ter uma outra coisa qualquer que não uma Dahon Classic. E sim sou pessoa para, se conseguir mais uma (a de inox por ex), aproveitar apenas o quadro e trazê-la para o sec. XXI. Se a condução dela já é óptima com quase tudo o que traz de origem, imagino com peças novas, melhores rodas, pneus, etc. 
Ainda estávamos longe dos pedais dobráveis e o sr Hon desenvolveu um crank em que o braço gira em torno de um eixo. É só desapertar este parafuso grande, no final vês a foto dobrada. Todas estas peças são em aço puro e duro. Eu ainda não a pesei mas julgo ter cerca de 14/15kg pelo menos. Aceitável para mim. 
Um design absolutamente delicioso. Não consigo encontrar uma Dahon moderna que tenha tanto appeal, presença como esta primeira. Por muito melhores que sejam. Outra curiosidade é que não consigo deixar de pensar numa Moulton a olhar para ela. Mas são bicicletas tecnicamente muito distintas, a Moulton é feita com pequenos tubos numa construção chamada space-frame e não partindo de uma geometria diamante como esta. Esta Dahon basicamente é um mini quadro convencional com aqueles dois tubos no meio a segurarem o espigão. Lembrando que o sr Alex Moulton só em 1983 é que apresentou o novo quadro. 
este é outro elemento fundamental na dobragem. Um pino que bloqueia a peça. A bicicleta sem qualquer uma destas peças torna-se inútil. 
A forma de dobragem lembra as Dash e Clinch também quadros diamante
basta pressionar nesta peça que liberta o aperto da dobradiça inferior. A dobradiça superior não tem aperto, mas o tubo que une o quadro ao espigão de guiador, juntamente com este aperto inferior são mais que suficientes. E existe um dente de uma parte que encaixa na outra (os primórdios do sistema Lockjaw das Dash e Clinch)
E se pensavas que a cena das rodinhas de trolley era coisa moderna... Um mecanismo muito inteligente, a versão pré-histórica da Landing Gear
Ora aí está, pequenina e fofinha. Ainda não a medi, mas fica ali entre a Curve e a Curl. O espigão na foto não desce porque tem um pequeno empeno que vou ter de corrigir. Provavelmente alguém com peso que andou com o espigão acima do limite, ou simplesmente defeito de design já que o espigão superior permite regular o selim em comprimento, tal como acontece nas BMX, só que este espigão é muito comprido e pode ter feito de alavanca.

Pelo que percebi este é o modelo mais cobiçado pelos colecionadores e tanto se encontra por meia dúzia de trocos como por valores obscenos no ebay. Em PT é difícil aparecer, mas lá de vez em quando no sótão ou garagem de alguém viajado. Já não é a primeira que vejo. Se tiveres interesse para além da palavra Dahon pesquisa também por "bicicleta dobravel" ou desdobrável. Nem sempre colocam a marca, ou por vezes escrevem errado o nome. Já apanhei anúncios em que a primeira foto está dentro de um saco! por isso atenção. 

E para fechar o post, deixo aqui a nova D-Zero, um modelo exclusivo da Dahon Japão e que traz de volta este design, mas sem dobradiça e com materiais modernos.

obrigado por estares aí. Não deixes de visitar o meu novo site Dahon em português: dahon.pt


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